quarta-feira, 6 de abril de 2011

Monja Coen


Quando se tem um blog , surgem alguns textos que me sinto na obrigação de publicar na íntegra,
 tamanha sabedoria.

Num primeiro momento não dizem respeito à Aromaterapia, mas na medida em que se vai lendo,
 percebe-se que tem tudo a ver.

Pois não existe uma terapia de aromas que não trabalhe o autoconhecimento, a evolução e a melhora da qualidade de vida.

Por isso posto hoje uma reflexão maravilhosa da Monja Coen.


Japão , por Monja Coen


Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão, me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou do povo Japonês: kokoro.

Kokoro ou Shin significa coração-mente-essência.


Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si mesmas, de suas necessidades pessoais e se colocar a serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada?

Outra palavra é gaman: aguentar, suportar. 

Educação para ser capaz de suportar dificuldades e superá-las. 
 Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo de duas maneiras.



A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima.
A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas.

Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros.

Nos abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém queria tirar vantagem sobre ninguém. Compartilhavam cobertas, alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens.
Cada qual se mantinha em sua área.
 As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se mantinham no espaço
que a família havia reservado.


Não furaram as filas para assistência médica ?
quantas pessoas necessitando de remédios perdidos- mas esperaram sua vez também para receber água,
usar o telefone, receber atenção médica, alimentos, roupas e escalda- pés singelos, com pouquíssima água.

Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das perdas de verduras, leite, da morte.

Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques.

Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que recebiam.

Ensinamento de Buda, hoje enraizado na cultura e chamado de kansha no kokoro:

coração de gratidão.

Sumimasen é outra palavra chave.

 Desculpe, sinto muito, com licença.

Por vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver.
Desculpe causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisarfalar com você, ou tocar à sua porta. Desculpe pela minha dor, pelas minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos
causando ao mundo.


Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus sentimentos, necessidades.
Quando cuidamos da vida como um todo, somos cuidadas e respeitadas.
O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de mim, perderei.
Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto.
Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico.
 As vítimas encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de resgate e delicadamente transportadas quer para as tendas do exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias, helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais.



Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda população pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que somos um só povo e um só país.

Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi telefonemas. 
Diziam-me do exagero das notícias internacionais, da confiança nas soluções que seriam encontradas e todos me pediram que não cancelasse nossa viagem em julho próximo.

Aprendemos com essa tragédia o que Buda ensinou há dois mil e quinhentos anos:

"a vida é transitória, nada é seguro neste mundo, tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente".

Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo está interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de salvar a Terra.
O planeta tem seu próprio movimento e vida.
 Estamos na superfície, na casquinha mais fina.
Os movimentos das placas tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades,
vinganças ou castigos.
O que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos.
 E isso já é uma tarefa e tanto.

Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à reconstrução.

 
Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março.
Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar e respeitar.

Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram.
E só posso dizer: todas.
Todas eram e são pessoas de meu conhecimento.
Com elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência.
Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem de Buda.

Mãos em prece (gassho)

Monja Coen

(Texto recebido pela internet)






4 comentários:

  1. O povo japonês esta dando para o mundo uma grande lição de civilidade, sabedoria e resignação, temos muito para aprender...

    beijo

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  2. Também acho isso, por isso senti a necessidade de compartilhar este texto...bjs

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  3. Sábias palavras!

    Concordo em muito com ela.
    O melhor de tudo é estar em paz.
    Como diz Tao The Ching:
    "A Sabedória de evitar os dois extremos, caminhar pelo caminho do meio".

    Grata pelo texto!
    Um iluminado final de semana!

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  4. Cláudia, que belo exemplo que o povo japonês dá para o mundo. Leio um pouco sobre o pensamento budista e entendo-o como uma espiritualidade elevada.Muito boa sua postagem,como sempre.beijinhos

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