sábado, 24 de dezembro de 2011

Abrir o coração


Já que é Natal, é bom lembrar que existem  momentos em que gostaríamos muito de ajudar a quem amamos muito, mas não podemos fazer nada.

Ou as circunstâncias não permitem que nos aproximemos, ou a pessoa está fechada para qualquer gesto de apoio.

Então, nos resta apenas o amor.

Nos momentos em que tudo é inútil, ainda podemos amar - sem esperar recompensas.

Se conseguirmos agir desta maneira, a energia do amor começa a transformar o universo a nossa volta.

Li no jornal sobre uma criança, em Brasília, que foi brutalmente espancada pelos pais.
Como resultado, perdeu os movimentos do corpo e ficou sem fala.
Internada no hospital, ela foi cuidada por uma enfermeira que lhe dizia diariamente: "eu te amo", embora os médicos garantissem que não conseguia escutá-la.
Três semanas depois, a criança havia recuperado os movimentos.
Quatro semanas depois, voltava a falar e sorrir.

O amor transforma, o amor cura.
Mas às vezes, o amor constrói armadilhas e termina destruindo a pessoa que resolveu entregar-se por completo.
Que sentimento complexo é este que no fundo é a única razão para continuarmos vivos?
Seria uma irresponsabilidade tentar defini-lo, porque, como todos os seres humanos, eu apenas consigo senti-lo.
Mas aprendi que este sentimento está presente nas pequenas coisas.
Portanto, é preciso ter amor sempre em mente, quando agimos ou quando deixamos de agir.

Pegar o telefone e dizer a palavra de carinho que adiamos.
Abrir a porta e deixar entrar quem precisa de ajuda.
Pedir perdão por um erro que cometemos.
Exigir  um direito que temos.
Saber dizer "sim" e "não".
Não seguir nenhuma receita, nem mesmo nem mesmo as que estão neste parágrafo - porque amor precisa de criatividade.

E quando nada disso for possível, lembrar-se então de uma história que um leitor me enviou certa vez.

Uma rosa sonhava dia e noite com a companhia das abelhas, mas nenhuma vinha pousar em suas pétalas.
A flor, entretanto, continuava a sonhar: durante suas longas noites, imaginava um céu onde voavam muitas abelhas, que vinham carinhosamente beijá-la.
Desta maneira, conseguia resistir até o próximo dia, quando tornava a se abrir com a luz do sol.
Certa noite, conhecendo a solidão da rosa, a Lua perguntou:
- Você não está cansada de esperar?
- Talvez. Mas preciso continuar lutando.
- Por quê?
- Porque, se eu não me abrir, eu murcho.

Nos momentos onde a solidão parece esmagar toda a beleza, a única maneira de resistir é continuarmos abertos.

(Texto de Paulo Coelho)






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