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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Lanche de Natal da Lídia


"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta, esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem!"
(Guimarães Rosa, Grande Sertão - Veredas)


Natal em família, que prato difícil de preparar...
Amo este texto, e acho que ele tem tudo a ver com o lindo natal preparado pela minha irmã Lidia, para o nosso grupo de jogo, que completou 25 anos de amizade este ano.

Uma família, com certeza!


"Família é prato difícil de preparar.
São muitos ingredientes.
Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo.


Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência.
Não é para qualquer um.
Os truques, os segredos, o imprevisível.
às vezes, dá até vontade de desistir.


Preferimos o desconforto do estômago vazio.
Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio.
Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite.


O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares.
Súbito, feito milagre, a família está servida.
Fulana sai a mais inteligente de todas.
Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade.


Sicrano, quem diria?
Solou, endureceu, murchou antes do tempo.
Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante.


Aquele o surpreendeu e foi morar longe.
Ela, a mais apaixonada.
A outra, a mais consistente.


E você?
É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia.


Família é prato que emociona.
E a gente chora mesmo.
De alegria, de raiva ou de tristeza.


Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco.
Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias tornam a família mais colorida, interessante e saborosa.


Atenção também com os pesos e as medidas.
Uma pitada a mais disso ou daquilo e pronto, verdadeiro desastre.
Família é prato extremamente sensível.
Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido.


Outra coisa: é preciso ter boa mão, principalmente na hora que se decide meter a colher.
Saber meter a colher é verdadeira arte.


Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita.


Bobagem.
Tudo ilusão.
Não existe família à Belle Meunière.
Família é afinidade, é à moda da casa.
E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.


Há famílias doces.
Outras, meio amargas.
Outras, apimentadíssimas.
Há também as que não tem gosto de nada, seriam assim um tipo de família dieta, que você suporta só para manter a linha.


Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo.
Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa.
A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia.


A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel.
Muita coisa se perde na lembrança.



Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu.
O que este velho veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer.


Se puder saborear, saboreie.
Não ligue para etiquetas. 
Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro.


Aproveite o máximo.
Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."
(Francisco Azevedo)


Fechamos o nosso ano com chave de prata e de de ouro, prata pelos 25 anos e ouro pelo brilho da nossa amizade!
Até o ano que vem, queridas amigas!